Os Mistérios do Castelo do Conde

Castelo do Conde
Castelo do Conde - Reprodução

Você gosta de contos de horror que se passam em um castelo assombrado? Já leu ou assistiu algum filme do aclamado Drácula? Se a resposta a uma dessas perguntas for sim, então o conto de terror a seguir é uma ótima opção!

Nele, você acompanha um velho historiador e seu cocheiro em uma busca “de gelar os ossos” por um objeto misterioso, guardado dentro do castelo do vampiro mais famoso dos contos de terror. Desse modo, você pode se imaginar caminhando por dentro do castelo do Conde Drácula, observando as suas paredes e encontrando uma passagem secreta.

Vamos lá?!

Os Mistérios do Castelo do Conde Drácula

Mistérios do Castelo do Conde Drácula
Mistérios do Castelo do Conde Drácula – Reprodução Freepik

Enquanto a charrete percorria as planícies da Transilvânia, eu me perguntava por que raios fui aceitar tal empreitada. As rodas de madeira deslizavam pelas ruas de terra numa velocidade constante, o que fazia com que o veículo planasse graciosamente. O clima estava ameno, e a brisa insistente denunciava a precipitação da neve, que cairia no mais tardar ao fim daquela semana.

Os Cárpatos eram uma região fértil, e a vegetação – ora arbustiva, ora frondosa – desviava meus pensamentos dos temores iminentes. Apenas o aborrecimento da empreitada deixava-me impaciente.

― Falta muito? ― Gritei para o cocheiro, batendo no teto com minha bengala de carvalho.

― Não, senhor, agora estamos muito próximos! ― Ele respondeu em seu inglês perfeito. Havia sido o único cidadão capaz de conduzir-me sem se queixar ou proferir maldições àqueles que procuram o castelo do conde, mas eu estava disposto a superar aquela bobagem em respeito à ordem do meu patrão.

Podia sentir cheiro de tabaco e conhaque só de lembrar do cidadão. Era um bom homem, solícito, respeitoso e pagava em dia. Mas, na questão de higiene, deixava a desejar. Andava sempre com roupas mal passadas, ternos desbotados e sapatos respingados de barro. Quem via Rogers nas ruas não dava nada por ele, mas quem o conhecia sabia de suas riquezas e seus contatos.

Quando a carruagem parou abruptamente, fazendo com que meu corpo fosse lançado para frente e batesse na encosta do veículo, fui tirado de minhas lembranças.

― Desejas matar-me, meu jovem? ― Saí afoito e encontrei o garoto, que com expressão confusa e respiração ofegante me encarava.

Tentava explicar que a entrada era muito à frente e jurava que o caminho estava mudado. Fiquei ainda mais preocupado. Haveria contratado um guia que não sabia nem para si mesmo onde estava?

Era a primeira vez que reparava na jovialidade do garoto, que teria por volta dos 18 anos e aparentava ser muito pobre, apesar de vestir roupas adequadas, limpas e costuradas. O tecido do traje era gasto e de qualidade inferior.

― Não está me enganando para ganhar uma boa quantia, está? ― Ele juntou as mãos e jurou que sabia onde ia. Olhei para um lado e outro. Estávamos em um lugar aparentemente deserto, envoltos por montanhas distantes.

Havia uma terra esbranquiçada e moitas que se esgueiravam pelos arredores do caminho. A estradinha que nos levaria ao castelo era estreita e sinuosa. Em determinado ponto estava envolta pela vegetação e desaparecia de nossos olhos.

Voltei para a carruagem a contragosto, um aperto no peito que só senti uma vez na vida. A viagem que fiz quando garoto, navegando pelo oceano Pacífico, ainda assombrava meus pensamentos.

A brisa da manhã aos poucos era dissipada pelo sol, e teríamos o dia todo para ir e voltar. Até ali tudo estava funcionando nos conformes. Me aconcheguei no banco de veludo e ajeitei o sobretudo nos ombros. Depois de ouvir tantas histórias aterrorizantes sobre um jovem guerreiro empalador, que pendurava a cabeça de seus inimigos em estacas no jardim do castelo, minha coragem e determinação ancoravam-se no dever, mais do que qualquer outra coisa.

Os cavalos puseram-se a galopar e o veículo sacolejava ao passar em cima de pedrinhas e realizar curvas fechadas. Passamos por um desfiladeiro e, depois de um longo tempo, começamos a subir em círculos, por uma enorme montanha. Não queria questionar o cocheiro uma vez mais, mas, em certa altura, pensei que estivéssemos perdidos.

Acho que levamos cerca de uma hora ou mais, mas chegamos. Quando saltei novamente da carruagem, me deparei com uma enorme porta de madeira e as paredes de pedra do gigantesco castelo.

Tudo parecia intacto, resguardado por alguma aura sombria. A névoa serpenteava a construção numa dança sensual e traiçoeira. A temperatura havia mudado. Estava frio. Um calafrio percorreu a minha espinha, e engoli a seco. Ajeitei mais uma vez o casaco, agradecendo por ter levado algo robusto e quente.

Enquanto observava a beleza e o horror que se condensavam, flertando com as vigas de mármore negro e arabescos, relanceei o jovem cocheiro, que se afastava para, assim como eu, contemplar o lugar. Sua expressão não era de surpresa como a minha. Ele certamente conhecia o mausoléu e por isso tinha… arrependimento. Sim, era exatamente isso. Essa era a palavra que estava procurando.

― Como o Sr. Vlad pôde morar neste lugar assombrado sozinho? ― Questionou baixinho, tentando destrancar a fechadura.

Assim que tocou a madeira, um barulho alto de dobradiça enferrujada ruiu, e a pesada porta foi se abrindo lentamente, revelando uma entrada escura e fétida. Levamos a mão ao nariz e nos afastamos, nossos olhares ainda perscrutando o interior.

― Só não vomitei porque não tenho nada no estômago. ― Agradecia mentalmente por ter o costume de não tomar café da manhã.

― Graças ao bom senhor, também não comi nada. ― O garoto concordou com um olhar entristecido. Seu casaco era fino, e seus lábios uma fina linha rígida. O aspecto cadavérico ironicamente combinava com aquela cena, e eu estava começando a duvidar que ele fosse apenas um guia perdido.

Dei-lhe uma lanterna, e outra vez, observei seus olhos. Lembro-me de ter me questionado: seria ele um órfão de guerra? Ou talvez um fugitivo de alguma cidade distante?

Tínhamos que adentrar o recinto. Uma ordem era uma ordem. E por mais que o castelo fosse assustador, não podíamos dar as costas para o serviço. Além disso, como ficaria perante o meu empregador se voltasse sem qualquer evidência ou história? Eu era um investigador contratado para esclarecer mistérios e reportar o inexplicável. Portanto, o único caminho era para dentro.

— Vamos em frente! — exclamei decidido quando finalmente o cheiro cedeu. Acendi uma lamparina que trouxe na carruagem e peguei minha pistola Winchester carregada, colocando-a no bolso, escondido do rapaz. Não queria assustá-lo, mas dois homens de estômago vazio não deviam dar chance para o azar, ainda mais em um lugar velho e abandonado. Meus quarenta anos haviam me transformado em um cara menos ágil e mais prudente.

Eu pensava repetidamente em minha esposa, seus cabelos negros volumosos, seu sorriso gentil e suas mãos quentes e macias. Daria tudo para voltar para casa, mas não podia voltar de mãos vazias. Eu não era homem de descumprir a palavra dada, e não seria naquela hora que iria fazê-lo.

Entrei, e o garoto veio logo em seguida. A luz das chamas era distorcida pelas paredes, banhando o chão como ondas e revelando os espaços gigantescos de cada cômodo. A maior parte do lugar estava vazia.

Passamos por imensas salas, quartos, corredores e alpendres. Ao olhar para fora de uma das sacadas na parte traseira da construção, percebemos um enorme penhasco que aprofundava-se a perder de vista, coberto por vegetação verde escura, transformando os fundos em um beco sem saída.

Os cheiros continuavam a nos assolar, uma mistura de poeira com ocre, mas estávamos nos acostumando àquela tortura.

— O senhor procura o quê mesmo? — Elias, que percorria o trajeto resignado e atento, questionou. Eu já havia compreendido sua atuação, nunca olhando para além da chama da vela que carregava, e na maioria do percurso, alguns passos para atrás.

— Procuro uma antiga escultura de metal. Ela é pequena e pesada, feita completamente de ouro. Foi moldada para retratar um monge tibetano e deve ter por volta de cinquenta centímetros de comprimento. — Ele ficou sério.

— De ouro?

— Sim! — confirmei, apressando o passo no enorme e escuro corredor.

— E como sabe que está aqui? Quer dizer, depois de todas as invasões que este lugar sofreu nos últimos tempos. — Elias se apressou para me acompanhar, mas parou ao meu lado quando avistei uma porta pequena, muito diferente das outras que vimos na parede à direita do corredor.

Era estreita e parecia de metal. Bati três vezes e escutei o tilintar. Atrás de nós, dos imensos vitrais esmaecidos, uma fraca luz escapava do céu nublado e iluminava a fina linha que delimitava o local.

— Ah, aí está! — apontei para ela. O garoto olhou-me estupefato.

Queria sorrir ou mostrar alguma excitação, mas os sons que vinham do escuro, dos lugares mais distantes perturbavam os sentidos. O cheiro podre havia retornado, mas estávamos nos acostumando a ele.

— Tenho informações privilegiadas — assumi, quando Elias tombou a cabeça para o lado descrente. Retirei a arma do bolso do casaco devagar, para que ele pudesse saber de minha intenção e apontei para o pequeno buraco da fechadura.

O barulho foi ensurdecedor, o que fez o charreteiro levar as mãos ao ouvido e gemer.

— Me desculpe! Não era pra assustar, só que não tínhamos a chave e… — Tentei explicar, mas ele fez parecer que estava bem e me encorajou a continuar. Respirei com certo alívio. Não queria que ele desistisse na última hora e me deixasse ali sozinho.

Como eu faria para voltar na vila? Como iria encontrar o caminho no meio daquelas matas, montanhas e plantas espinhosas?

Observamos que o tiro surtiu efeito, e terminamos de empurrar a porta. Peguei a lamparina de onde havia a deixado no chão e iluminei a entrada. Dava para uma escada em espiral, e pudemos ver apenas parte do caminho. Imaginei quão funda não devia ser aquela passagem.

Estendi para meu parceiro uma vela nova e uma caixa de fósforos.

— Não sei o que vou encontrar lá embaixo, se tem alguma coisa ruim ou não, mas as lendas desse lugar não são boas. Quanto mais tempo passamos aqui, nessa escuridão e no gelo dessas paredes, mais apavorado e receoso fico. É melhor me esperar aqui fora, e se eu não aparecer em meia hora, pode me deixar para trás.

De onde tirei isso? Por que havia falado para o garoto me deixar para trás? Eu estava louco? Mas, olhar para aquele surrado e pobre ser me fez ter a consciência de que ele não viveu nada. Devia ter sofrido muito, porque os olhos eram de quem já viu o pior do mundo. Sua postura era um pouco caída, e as mãos colecionavam calos e cicatrizes. Imaginei se ele tinha família, alguém que o amava.

Das profundezas da escuridão ao nosso redor, escutamos silvos de vento que percorriam o vazio como um profundo gemido animal. Às vezes eu podia jurar que chamavam meu nome, como se soubessem que eu estava lá, procurando por algo.

Mas nós dois não ousamos falar sobre aquelas percepções, e o garoto falseava uma coragem admirável, traída apenas pela tremedeira de sua mão e urgência de seus gestos. — Não vou deixar o senhor descer sozinho. Eu aprendi desde cedo que um homem de verdade não deixa outro para trás! — Elias me encarava com o brilho da honra no olhar. Elias. Eu não tinha parado para pensar neste nome. Na parábola bíblica, esse era o nome de um homem que cruzava os oceanos no estômago de uma baleia, e cá estávamos nós, prestes a adentrar o estômago daquele casarão horrendo.

Cada palavra proferida pelo charreteiro trazia consigo a força de sua convicção e do seu caráter. Pensei em quão tolos éramos nós, os homens imbuídos pela honra. A honra havia me levado a deixar os Estados Unidos e parar naquele vale inóspito, atrás de uma estátua que nem sabia se existia ou não.

Fiz que sim com a cabeça, parte emocionado, parte aliviado com o gesto do rapaz. Tudo isto misturava-se ao medo de que algo acontecesse com ele.

— Essa estátua vale muito, não é? — Elias perguntou, enquanto descíamos as estreitas escadas em espiral. Tirei um lenço do bolso e o levei ao nariz, a fim de restringir a entrada de poeira nas vias aéreas.

— Com certeza, meu jovem, e meu patrão é um homem muito decidido. Quando apareceu um lunático que se diz pesquisador, dizendo que a estátua estava aqui, logo teve a ideia de mandar alguém vir buscá-la. E o escolhido fui eu. — Eu sabia que devia a minha vida a esse homem. Dizer não era algo impossível sob essa circunstância.

— Mas como ele sabia o local exato onde procurar? — Ele franziu a testa. — Estive aqui uma ou duas vezes e nunca reparei naquela portinha.

Numa certa parte, notei que a umidade havia criado musgo nos degraus. Aconselhei a andar mais próximo das paredes e nos apoiar nas pedras salientes que as sustentavam.

— Não sei como o mapa exato para a suposta estátua foi parar nas mãos de Rogers, mas sei que ele não despendeu o dinheiro de minha vinda à toa.

— Pontuei, ainda tentando convencer a mim mesmo da importância de tudo aquilo.

Estávamos descendo há um bom tempo, e, ao olhar para cima, não podíamos ver sequer a abertura por onde entramos. Apenas as chamas das velas, que criavam figuras de calor nas paredes gélidas, eram nossas companheiras.

Íamos devagar e com cautela, o que aumentava consideravelmente o tempo de descida. — Por que você aceitou me trazer até aqui, Elias? Principalmente quando todos se negaram? — Tentei parecer curioso e não invasivo. Ouvi a voz dele ficar um pouco mais baixa atrás de mim.

— Preciso de moedas. — ele respondeu seco e direto. Era o que eu já imaginava.

— Bom, é bem verdade que eu pago muito bem, e mesmo assim outros não aceitaram. — Argumentei.

— Preciso de moedas para sobreviver, não como a três dias e tenho mãe doente. Ou come ela, ou come eu. Prefiro que ela come. — De repente, seu inglês tão ensaiado falhou, e acho que pela emoção de pronunciar tais palavras.

— Sinto muito! — Falei com terna sinceridade e voltei a andar. Planejei pagar um pouco mais quando saíssemos dali. Senti meu coração bater tão rápido que a cabeça estava zonza. Pouco tempo depois, as chamas iluminaram o fundo.

Podíamos ver um púlpito daqueles de igreja, e em seu topo jazia o objeto dourado de nossa procura. Adiantamos o passo. O chão era de terra batida e estava coberto de musgo nos cantos.

O lugar era pequeno e circular, feito para o acesso de uma ou duas pessoas, no máximo. Já ía colocando as mãos na estátua quando Elias me impediu.

— Não! O Sr. devia pensar no porquê alguém guardaria uma estátua de ouro nesse lugar profundo. Não acha estranho? — Ótima observação, o garoto era mais esperto do que imaginei.

— Para não ser roubado! — Argumentei, aproximando as chamas da escultura, para observar seus detalhes. Era a representação de um homem sentado de pernas cruzadas, as mãos no colo, o peito desnudo e a cabeça careca.

O rosto era estranho, distorcido num sorriso de escárnio. Não parecia em nada com o que eu havia visto em toda a vida trabalhando com esculturas orientais. O brilho dourado impecável fazia parecer que havia acabado de ser polida, e eu reconheceria ouro em qualquer lugar do mundo.

Mas quem e quando alguém teria limpado aquilo? Por que não estava tomada pela poeira e umidade?

— Acho que não devemos tirá-la daí, senhor! — O garoto segurou a minha mão livre, e pude perceber que sua tremedeira havia aumentado exponencialmente.

— Não vai acontecer nada, se acalme, homem! — Soltei a mão dele e apertei seu ombro. Elias me encarou, o rosto retorcido de pânico.

— Estou sentindo algo ruim, senhor, estou sentindo que não estamos sozinhos aqui. Desde que chegamos, acho que algum ruim vem nos acompanhando pela casa. Por isso não o deixei descer aqui sozinho. — Ele soltou um suspiro pesaroso, lágrimas ameaçando cair de seus olhos. — Eu tinha prometido que não vinha mais aqui, e já me arrependi!

Aquelas palavras, ditas com voz de choro reprimido, destravaram meu medo de vez, e comecei a me questionar se era mesmo boa ideia mexer naquela velharia. O que eu mais queria era sair dali.

— Eu não sou homem dado a superstições, e não vim até aqui para sair de mãos vazias! — Rosnei, usando a raiva para abafar o desespero. Levei a mão em direção da estátua novamente, os dedos quase tocando no rosto retorcido do homem, que me observava com avidez. Era como se o monge sinistro estivesse louco para que eu o tocasse.

— Não! — Elias gritou e segurou a minha mão, impedindo-me novamente.

— Deixe que eu a pegue, então!

— Por quê? — Ele deu de ombros, a respiração curta e pesada. Deveria eu ver aquele gesto como um ato de sacrifício? O rapaz acreditava tão profundamente que aquele objeto era amaldiçoado?

— O senhor disse que tem mulher, tem emprego, tem amigos. — Ele argumentou passivo. — O médico disse que mamãe não passa de amanhã, e logo não terei quem me cuide ou de quem eu cuide. Não tenho amigos, nem tenho emprego. Se o Sr levar a carruagem para o dono do armazém, terei cumprido a tarefa. Não perco nada se morrer aqui. — Constatou muito convicto, mas sem deixar de tremer.

Por um momento, imaginei aquele bom e jovem garoto morrendo naquele buraco, longe da luz e com a barriga vazia. Era a coisa mais triste que podia me ocorrer. Eu não tinha filhos e não me aproximava dos mais jovens há uns bons anos, e aquele garoto despertou em mim a compaixão e a admiração que eu não sabia ser capaz.

E se aquela estátua, aquele ser dourado e perverso carregasse consigo pragas e morte? Alguém sentiria nossa falta? Viria nos procurar? Talvez minha mulher… não, com certeza minha doce mulher viria por mim.

Ela me encontraria no fundo de um buraco sujo, segurando um pedaço de ouro maldito ao lado de um jovem sem família. Elias. Quem sentiria falta dele? Alguém viria por ele? Não. Eu duvidava disso.

Elias só tinha a mim, e mesmo que ele morresse para me salvar, se é que isso fosse real, eu não saberia conduzir a carruagem e encontrar o caminho de volta. Eu só tinha a Elias, e ele a mim.

— Não, Elias, podemos ir embora. Vamos deixar essa coisa macabra aqui, e vamos voltar para a luz e seguir com nossas vidas. — Me surpreendi quando ele me abraçou apertado, quase fazendo com que a lamparina caísse ao chão. Foi um momento de alívio, e eu soltei o ar que devia estar preso em minha garganta desde que entrei no castelo.

Quando nos viramos para olhar a estátua pela última vez, vimos seu rosto contorcido pelo ódio, como se soubesse que estávamos deixando-a para apodrecer nas trevas. Respiramos profundamente e voltamos a subir as escadas, agora mais depressa.

Calados e concentrados, percorremos os degraus até encontrar a estreita porta e avançar para o corredor. Nos encostamos próximo ao vitral para recuperar o ar. Lá fora estava tudo muito escuro, o que voltou a nos assustar.

Elias me puxou para observar a pequena porta, e no lugar por onde entramos, havia uma parede de tijolos antiga e mofada.

— Cadê a porta? — A entrada tinha desaparecido. Esfregamos os olhos e tornamos a olhar, nem sinal do lugar em que estivemos. Deixei para refletir lá fora, então peguei Elias pelo braço e comecei a percorrer os corredores.

Andamos por muito tempo, às vezes chegamos a correr, e rezei para não estarmos perdidos. A lamparina fazia menção a se apagar, e quando meu coração quase parou no peito, demos de cara com a porta.

Saímos do castelo e respiramos o ar puro da… noite? A lua jazia alta no céu, iluminando a carruagem e os cavalos.

— Quanto tempo ficamos lá dentro? — Olhei para Elias, que se apressou para virar os cavalos.

— Não sei, senhor, mas quero partir agora.

Sentei com Elias no espaço do cocheiro e nos precipitamos mata a dentro. Não sei ao certo como chegamos na cidade, só me lembro dos feixes de mata e do som das rodas na estrada. Quando nos despedimos, dei todo o dinheiro que tinha para Elias e o abracei apertado. Fiquei observando enquanto ele partia agradecido. Foi a última vez que nos vimos.

Uma “mineirinha” formada em Letras, que ama escrever sobre literatura e redes sociais, trabalha com educação informal de jovens e adultos e produz artigos para sites e blogs.