Você gosta de contos de terror? Hoje eu separei uma história especial para você, que com certeza irá perturbar os seus sonhos. Está preparado?
A sombra
Eu me perguntava quantas outras almas perturbadas estariam olhando pela janela às duas da manhã. Alguém mais viu aquela coisa?
Olhei outra vez por toda a extensão de céu por onde a criatura voara desajeitada. Esperei vê-la de novo para ter certeza. Mas as únicas coisas visíveis no céu escuro eram as estrelas. Infinitas, brilhantes e inalcançáveis.
Teria sido um sonho ou uma alucinação?
Perguntei-me se estava bem acordado. É claro que estava, mas talvez não estivesse no momento exato.
Minhas noites sempre foram de insônia e pesadelos bizarros. Bastava fechar os olhos para que minha mente fosse habitada por monstros, assassinos e aviões que empinam o nariz para cair em seguida.
Talvez fosse apenas uma variação do sonho com os aviões, porém desta vez eu não estava na cama e não acordei suado e amedrontado. Eu estava de pé na sala, com as luzes acesas e tinha quase certeza de não ter adormecido.
Por que me levantei? Em que eu estava pensando? Não conseguia me lembrar. Creio que não tinha nada importante na cabeça, apenas uma leve preocupação por não conseguir dormir e precisar sair cedo para o trabalho. Acho que saí da cama para tentar relaxar; fui ao banheiro e caminhei um pouco pela casa, depois tive a terrível ideia de abrir a janela.
Foi bom no início; gostei de respirar o ar frio e observar as ruas silenciosas de um bairro próximo. Olhei para o céu, admirei-o. Foi então que vi a coisa.
Veio voando sobre as árvores ao lado da rua. Era uma sombra negra, em muitos aspectos uma sombra humana, exceto pelo terrível detalhe de que voava com a ajuda de longas asas. Um voo inseguro, estranho, como se fosse uma criatura que não fora feita para voar, mas ganhara asas de alguma forma maligna, totalmente contra a natureza.
A coisa perdeu altitude enquanto cobria o meu campo de visão, bateu em um coqueiro e caiu no meio de um pasto abandonado, atrás de arbustos velhos e retorcidos.
Eu não era louco e, a cada segundo, me convencia mais de que não estivera dormindo. Então o que era aquilo?
Um anjo?
Um demônio?
Um vampiro?
Uma criatura dos contos de terror de Edgar Allan Poe?
A última opção trouxe um alívio momentâneo. Livros e filmes recentes começavam a moldar em minha mente uma nova imagem de tais criaturas. Os seres perversos e sanguinários transformavam-se pouco a pouco em lendas inofensivas, quase cômicas.
Mas eu não acreditava em vampiros e também não estava disposto a crer em anjos e demônios. Então continuei procurando respostas sem desviar os olhos do local exato onde a coisa caíra.
Seria um homem? Devia ser um maluco que construíra asas para sair por aí brincando de pássaro. Mas às duas da manhã? Não me convenci. Se aquelas asas fossem artificiais seriam denunciadas por alguma característica; um barulho de motor, engrenagens, luzes. Mas o voo foi completamente silencioso, fantasmagórico.
Será que a criatura morreu? Não se ouvia nada, não se viam movimentos, não havia sons de agonia ou pedidos de ajuda.
“Tenho que ir até lá”, eu disse e me assustei com a minha própria sugestão. Como assim? Caminhar sozinho, no escuro, em um lugar ermo em busca de uma sombra voadora que caiu do céu?
Pensei em ir para a cama, mas fui dominado pela imagem inevitável daquela criatura alada invadindo meu quarto e me sufocando durante o sono. Eu acordaria um segundo antes da morte apenas para ver seu rosto diabólico a centímetros do meu.
Pensei em ligar para alguém. Para a polícia? Para um amigo? Porém a possibilidade de ter alguém ali comigo trouxe de volta um pouco de coragem e a racionalidade perdida. De repente me convenci de que fora um sonho; tive certeza de que quando chegasse ao local da queda com um amigo ao meu lado não encontraria nada e seria chamado de louco.
“Não, eu não vou ligar para ninguém”.
Mas eu não fechei a janela, não desisti de vigiar, esperar. Continuei em dúvida aguardando um sinal que pendesse para o sonho ou realidade.
Quinze minutos se passaram sem nenhum movimento… ou talvez houvesse movimentos. O quanto eu era capaz de enxergar naquela escuridão? Talvez, naquele exato momento, a criatura estivesse de pé olhando para mim. Talvez ela levantasse voo de repente e destruiria a distância entre nós antes que eu pudesse me mexer. Com um braço musculoso e deformado ela me puxaria para fora me espremendo entre as grades da janela.
Senti um arrepio, mas mantive meu olhar firme, vigilante. Eu não podia dormir, sair ou pedir socorro. Eu só podia esperar; talvez a noite toda, sem me mexer, sem distrair-me ou aquela coisa me mataria.
Esse era o seu plano, agora eu sabia. Aposto que ele vinha me espreitando há dias, não sabia o motivo, mas sentia isso. Aquela era a noite da minha morte, o fato de eu ter surpreendido a criatura em sua aproximação fora apenas um golpe de sorte que apenas adiaria o inevitável.
– Vou até lá – eu decidi.
Já que eu iria morrer de que adiantaria ficar ali parado? Vesti meu casaco, enfiei um celular no bolso e peguei uma lanterna. Saí para a escuridão.
Devo ter levado meia-hora para caminhar quinhentos metros; cada passo produzia estalos altos no mato seco e eu parava aflito esperando sons em resposta. A noite parecia estar em se auge e lançava sobre a terra a maior escuridão que eu já presenciara, minha lanterna enfraquecia a cada instante.
Parei diante do coqueiro com o qual a criatura se chocara, olhei para o topo e imaginei a queda.
Corajosamente apontei o facho de luz para o local exato. Não havia nada ali.
Ri por um momento.
– Seu louco, está imaginando coisas.
Aproximei-me para examinar melhor. Foi outra péssima ideia que tive naquela noite. Eu poderia ter ido embora pensando que tudo fora uma alucinação, eu iria dormir sem temer que algo me atacasse durante a noite, mas meu exame minucioso do local revelou uma pequena faca ensanguentada que marcava o início de uma trilha avermelhada.
“Ele foi embora”, eu pensei seguindo a trilha com a luz da lanterna, mas de repente a luz golpeou uma cerca de arames farpados e a criatura estava escorada nela. As asas estavam parcialmente recolhidas, o corpo era escuro e tinha manchas acinzentadas. O rosto exibia dois enormes olhos esbranquiçados com duas pequenas íris que se fecharam quando a luz as encontrou. Os olhos pareciam mal distribuídos no rosto, desalinhados e mais baixos do que deveriam. O nariz era pequeno, quase invisível e os lábios eram longos e exibiam um sorriso zombeteiro. Em sua testa protuberante havia vários orifícios escuros de onde escorria um líquido viscoso. A coisa respirava com dificuldade, ferida sob as costelas.
Nós nos olhamos. Eu apertei o punho da faca pensando no quanto fora estúpido por ter ido até ali. Levantei a lâmina para me defender e então a criatura atacou.
Ela não conseguiu voar, mas avançou cambaleante abrindo sua enorme boca e produzindo um som agudo e irritante. Ao tentar me virar para fugir tropecei em minhas próprias pernas e caí. Levantei-me sem olhar para trás e corri desnorteado.
A coisa alcançou-me, uma mão fria agarrou-me pelo ombro. Eu gritei, implorei por ajuda ao mesmo tempo em que me virava desferindo um golpe com a faca. A lâmina afundou-se no pescoço da criatura.
Ela me largou e caiu debatendo-se ainda emitindo seu som irritante. Mas logo se silenciou, aquietou-se e morreu.
Eu fiquei olhando o monstro a espera do momento em que se levantaria. Não poderia ser tão fácil, não era possível que eu fosse o sobrevivente. Chutei a coisa, cuspi nela e exigi que se levantasse para que tudo terminasse logo. Ela não reagiu aos insultos e eu aceitei que não se mexeria mais.
Relaxei, sorri e sequei minha testa suada. Agora eu precisava mostrar a coisa a alguém, precisava de ajuda para descobrir o que era aquilo.
Procurei meu celular, mas percebi que o perdi na queda, então corri alucinadamente até o vizinho mais próximo. Acordei um homem mal-humorado que me atendeu de pijama.
– Tem uma criatura muito estranha perto da minha casa – eu gritei.
Ele perguntou se eu havia usado drogas, mas eu insisti, dei detalhes, ele ficou curioso e me acompanhou.
Em menos de cinco minutos eu estava de volta ao local onde matara a criatura.
– Onde está? – perguntou o vizinho, desconfiado, sem se aproximar demais.
Ela desaparecera deixando apenas uma mancha de sangue como prova de sua passagem.
– Estava bem aqui.
– Isso é uma brincadeira, não é? Você é um idiota esquisito.
Com medo de mim ele foi embora.
Fiquei sozinho outra vez. A madrugada avançava e uma fina neblina começava a se formar. Se o sangue não estivesse ali eu também duvidaria de minha sanidade. Fiquei um longo tempo apontando a lanterna para a mancha vermelha, depois observei rapidamente ao redor fazendo uma busca precária atrás das árvores mais próximas. Não encontrei nada. Subitamente senti um calafrio e olhei para o céu; ali não havia nada além de estrelas e paz, mesmo assim decidi voltar para casa caminhando depressa. Ás vezes eu parava rapidamente para observar o céu uma vez mais.
Eu não pensava que a criatura tinha se levantado e ido embora. Só havia uma forma de ela ter desaparecido tão rápido.
A coisa foi levada por outros…
Outros iguais a ela.
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